Sumário da Análise da AFLT3
Esta análise aborda a Afluente Transmissão (AFLT3), uma empresa crucial no setor de energia elétrica da Bahia, controlada pela Neoenergia. Detalhamos sua rentabilidade, indicadores fundamentalistas, política de dividendos e a inserção no contexto regulatório e de mercado, oferecendo uma visão para investidores interessados em ativos de transmissão.
Afluente (AFLT3): Um Panorama no Setor de Transmissão de Energia
A Afluente Transmissão de Energia Elétrica S.A., listada na B3 sob o ticker AFLT3, representa um player estratégico no segmento de transmissão de energia. Fundada em 2009, a empresa desempenha um papel vital na infraestrutura elétrica da Bahia, operando nove linhas de transmissão que somam cerca de 450 quilômetros e três subestações com capacidade instalada de 600 MVA. Como parte do portfólio da Neoenergia, uma das maiores holdings do setor elétrico brasileiro, a AFLT3 se beneficia da sinergia e do suporte de um grupo robusto, que detém aproximadamente 87,84% de suas ações. Essa integração é fundamental para sua resiliência e para a gestão eficiente de seus ativos.
O setor de transmissão é conhecido por sua previsibilidade de receitas, dada a estabilidade regulatória da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). A Receita Anual Permitida (RAP) é reajustada periodicamente, proporcionando um fluxo de caixa relativamente constante, o que pode ser atraente para investidores que buscam estabilidade e dividendos. A Neoenergia, controladora da Afluente, tem demonstrado uma estratégia ativa no segmento de transmissão, investindo em modernização e rotação de ativos para otimizar seu portfólio, como a inauguração do Centro de Monitoramento de Ativos da Transmissão (CMAT) em Campinas (SP) em março de 2025, visando maior eficiência operacional e confiabilidade.
Análise de Rentabilidade e Valor
Retorno Histórico: O Desempenho da AFLT3
Ao observar a rentabilidade da AFLT3, notamos um desempenho misto. Embora a rentabilidade nos últimos 3 meses (+1,95%) e 1 ano (+10,32%) seja positiva, a rentabilidade real (descontada a inflação) mostra um quadro diferente. No longo prazo, a rentabilidade real de 5 anos é de -22,63%. Isso sugere que, apesar dos retornos nominais, a ação não conseguiu superar a inflação nesse período, um ponto crucial para investidores de longo prazo. No entanto, é importante notar que a rentabilidade real em 1 e 2 anos é positiva (+5,99% e +6,26%, respectivamente).
Rentabilidade Histórica (Nominal e Real):
| Período | Rentabilidade Nominal | Rentabilidade Real | 
|---|---|---|
| 1 Mês | -0,95% | -0,95% | 
| 3 Meses | +1,95% | +2,06% | 
| 1 Ano | +10,32% | +5,99% | 
| 2 Anos | +15,87% | +6,26% | 
| 5 Anos | +4,20% | -22,63% | 
Indicadores de Valuation: Graham e Bazin
A avaliação de uma ação envolve diversas metodologias. Segundo a fórmula do Preço Justo de Benjamin Graham, um dos maiores investidores da história e mentor de Warren Buffett, a AFLT3 estaria negociando acima de seu valor intrínseco. Com um preço atual de R$ 7,32 e um preço justo calculado de R$ 5,48, o potencial de queda (upside negativo) seria de -25,17%. É válido ressaltar que a própria metodologia de Graham indica que sua fórmula pode não se adequar tão bem a empresas de tecnologia, mas para uma empresa de utilidade pública como a Afluente, a aplicação é mais pertinente, embora o foco em valor patrimonial possa ter menos peso para empresas com forte geração de caixa e baixo CAPEX como as de transmissão.
Já pela ótica de Décio Bazin, renomado por sua estratégia focada em empresas pagadoras de dividendos, a ação AFLT3 está muito próxima do seu preço-teto. Com um preço atual de R$ 7,32 e um preço-teto de R$ 7,34, o potencial de valorização (upside) é de apenas 0,29%. A metodologia de Bazin, que considera os dividendos distribuídos pela empresa, sugere que, para um investidor focado em renda passiva, o valor atual já reflete praticamente o máximo a ser pago por essa ação, considerando seu histórico de proventos e um DY mínimo desejado de 6%.
Saúde Financeira e Indicadores Fundamentalistas de AFLT3
Os indicadores fundamentalistas são essenciais para entender a saúde de uma empresa. A AFLUENTE (AFLT3) apresenta um perfil interessante, mas com alguns pontos de atenção.
Múltiplos e Margens
O indicador P/L (Preço/Lucro) da AFLT3 está em 20,86, o que é um patamar considerável, embora tenha se reduzido nos últimos anos (era 43,48 em 2021). Este múltiplo indica que o mercado está pagando 20,86 vezes o lucro anual da empresa por ação. O P/VP (Preço/Valor Patrimonial) de 1,92 sugere que a empresa está sendo negociada a quase duas vezes seu valor patrimonial por ação.
As margens de lucro são um destaque positivo. A Margem Líquida atual é de 29,22%, a Margem Bruta de 59,71% e a Margem EBITDA de 48,85%. Essas margens demonstram uma boa eficiência operacional e capacidade de gerar lucros a partir de suas receitas. No entanto, é importante notar a volatilidade da Margem Líquida ao longo dos anos, que variou de 10,70% em 2021 a 52,07% em 2020.
Endividamento
A situação de endividamento da AFLT3 parece controlada. O indicador Dívida Líquida / EBITDA é de 0,20, um nível muito baixo e saudável, indicando que a empresa tem pouca dívida em relação à sua capacidade de geração de caixa operacional. A Dívida Bruta atual é de R$ 30,61 Milhões, enquanto a Dívida Líquida é de R$ 7,40 Milhões. Isso demonstra uma gestão financeira conservadora e pouca alavancagem.
Crescimento e Eficiência
O CAGR (Compound Annual Growth Rate) das Receitas nos últimos 5 anos foi de 16,09%, um crescimento robusto que evidencia a expansão dos negócios da Afluente. Já o CAGR dos Lucros nos últimos 5 anos foi de 6,93%, um crescimento positivo, mas que não acompanhou o ritmo das receitas. Os indicadores de eficiência, como ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido) de 9,20% e ROIC (Retorno sobre o Capital Investido) de 9,63%, mostram que a empresa gera um retorno razoável sobre o capital dos acionistas e o capital total investido, mas o ROE está ligeiramente abaixo da marca de 10% geralmente desejada por investidores mais exigentes, segundo alguns critérios de buy & hold.
Política de Dividendos da AFLT3: Atração para Renda
A AFLT3 se destaca como uma empresa com um histórico de distribuição de proventos. O Dividend Yield (DY) atual é de 5,88%, com uma média de 6,08% nos últimos 5 anos, o que a torna atrativa para investidores focados em renda passiva. O Radar de Dividendos Inteligente aponta que Abril (71% de probabilidade) e Dezembro (43% de probabilidade) são os meses com maior histórico de “Data Com” para a AFLT3. Em 8 de janeiro de 2025, a empresa efetuou um pagamento de R$ 0,09 por cota.
Um ponto de atenção é o Payout (percentual do lucro distribuído como dividendos), que tem sido historicamente alto, e atualmente em 165,96%. Um payout acima de 100% significa que a empresa está distribuindo mais lucros do que gera, o que não é sustentável a longo prazo e pode ser financiado por reservas de lucro acumuladas ou até mesmo por endividamento. Em 2021, por exemplo, o payout atingiu 464,25%. Isso pode indicar uma estratégia de maximização de retorno aos acionistas em certos períodos, mas exige análise cuidadosa para entender a origem desses proventos excedentes.
O Contexto do Setor Elétrico Brasileiro e Perspectivas para a AFLT3
O setor elétrico brasileiro, no qual a AFLT3 está inserida, é caracterizado por sua resiliência e regulamentação rigorosa pela ANEEL, o que confere certa previsibilidade aos investimentos. A transmissão de energia, em particular, é um segmento de menor risco e maior estabilidade, pois suas receitas são garantidas por contratos de longo prazo (RAP) e não dependem diretamente do volume de energia vendida, mas da disponibilidade das linhas.
As perspectivas para 2025 no setor elétrico indicam uma transformação contínua, impulsionada pela expansão do mercado livre de energia e pelo crescimento das fontes renováveis, como solar e eólica. Isso demanda investimentos robustos em infraestrutura de transmissão para escoar a energia gerada, criando um cenário favorável para empresas como a Afluente. A Neoenergia, como controladora, tem investido em tecnologia para monitoramento de ativos e em otimização do portfólio de transmissão, o que reforça a solidez e a busca por eficiência em suas operações.
No entanto, desafios como a burocracia no licenciamento ambiental, os custos elevados de energia devido a encargos e tributos, e a insegurança jurídica ainda persistem no setor. A ANEEL também tem atuado para aprimorar a regulamentação, como as novas regras para descontos nas tarifas de uso dos sistemas de transmissão e distribuição, o que exige adaptação por parte das empresas.
Comparativo com Pares e Índices
Ao comparar a AFLT3 com outras empresas do setor de energia elétrica, observamos algumas características importantes. A Afluente possui um valor de mercado relativamente pequeno (R$ 461,78 Milhões) comparado a gigantes como ELETROBRAS (ELET3, R$ 143,84 Bilhões) ou CPFL ENERGIA (CPFE3, R$ 44,52 Bilhões), classificando-a como uma small cap. Essa característica pode implicar em menor liquidez de suas ações no mercado.
Comparativo de Indicadores Fundamentais com Concorrentes (Setor de Energia Elétrica):
| Empresa (Ticker) | P/L | P/VP | ROE | DY | Valor de Mercado | Margem Líquida | 
|---|---|---|---|---|---|---|
| AFLUENTE (AFLT3) | 20,86 | 1,92 | 9,20% | 5,88% | R$ 461,78 M | 29,22% | 
| ELETROBRAS (ELET3) | 20,48 | 1,14 | 5,58% | 6,71% | R$ 143,84 B | 15,17% | 
| EQUATORIAL ENERGIA (EQTL3) | 12,35 | 1,61 | 13,05% | 2,18% | R$ 45,11 B | 7,38% | 
| CPFL ENERGIA (CPFE3) | 8,23 | 2,07 | 25,17% | 7,26% | R$ 44,52 B | 12,29% | 
| COPEL (CPLE6) | 12,29 | 1,46 | 11,89% | 5,12% | R$ 36,37 B | 12,75% | 
| CEMIG (CMIG4) | 4,77 | 1,09 | 22,84% | 13,50% | R$ 34,36 B | 15,50% | 
| ENGIE BRASIL (EGIE3) | 10,81 | 2,64 | 24,44% | 5,12% | R$ 32,53 B | 25,27% | 
A AFLT3 apresenta um P/L e P/VP mais elevados que alguns de seus pares diretos, como ELET3 e CMIG4. Seu ROE de 9,20% está abaixo da média de algumas das maiores do setor, mas sua Margem Líquida de 29,22% é bastante competitiva, superada por poucas como ISA CTEEP (ISAE4) que atinge 39,74%. No que tange a dividendos, o DY de 5,88% é atrativo, mas não o maior do grupo.
Em termos de comparação com índices, a AFLT3 apresentou um desempenho abaixo do Ibovespa (IBOV) e do CDI nos últimos 5 anos. Enquanto R$ 1.000,00 investidos em IBOV teriam se tornado R$ 1.502,80 e em CDI R$ 1.631,60, o mesmo valor em AFLT3 resultaria em R$ 1.042,00. Contudo, superou o índice de Small Caps (SMLL), que renderia R$ 933,30 no mesmo período. Isso sugere que a ação, apesar de ser uma small cap, teve um desempenho melhor que a média de seu segmento, mas não conseguiu acompanhar os índices mais amplos do mercado e a renda fixa.
Pontos de Atenção e Riscos
- Baixa Liquidez: A AFLT3 apresenta uma liquidez média diária muito baixa, de aproximadamente R$ 2,17 Mil. Isso pode dificultar a compra e venda de grandes volumes de ações sem impactar significativamente o preço, sendo um risco para investidores que precisam de flexibilidade ou que operam com grandes montantes.
 - Free Float Reduzido: Com um free float de apenas 1,33%, a quantidade de ações em livre circulação é mínima. Isso reforça a baixa liquidez e a alta concentração da propriedade nas mãos da Neoenergia e Iberdrola, o que pode limitar a valorização e a atratividade para grandes fundos de investimento.
 - Payout Elevado: O histórico de payout, por vezes superior a 100%, embora indique generosidade na distribuição, pode levantar questões sobre a sustentabilidade dos dividendos no longo prazo se não for acompanhado por um crescimento robusto de lucros ou por uma gestão de caixa eficiente que justifique tal distribuição.
 - Avaliação de Graham: A fórmula de Graham sugere que a ação está sobrevalorizada, o que pode indicar um risco de correção de preço caso os fundamentos não justifiquem o valor de mercado atual.
 - Dependência da Controladora: Embora a Neoenergia seja uma controladora sólida, a forte dependência pode limitar a autonomia estratégica da AFLT3 e torná-la suscetível a decisões que priorizem os interesses do grupo.
 
Conclusão do Analista
A AFLT3 (Afluente Transmissão) se apresenta como uma empresa com características que podem agradar a diferentes perfis de investidores, mas exige uma análise cuidadosa. Para o investidor focado em dividendos, o Dividend Yield da AFLT3 é atrativo e consistente, com um preço-teto de Bazin que a posiciona próxima de um valor justo para esse perfil. A estabilidade do setor de transmissão, impulsionada por receitas reguladas e a busca por eficiência da controladora Neoenergia, contribui para um cenário de previsibilidade.
Contudo, a baixa liquidez e o reduzido free float são fatores críticos que não podem ser ignorados, especialmente para investidores que necessitam de facilidade na negociação de seus ativos. A avaliação de Graham, por sua vez, sinaliza uma possível sobrevalorização, o que requer atenção ao preço de entrada. A rentabilidade real de longo prazo negativa e o payout elevado em alguns períodos também devem ser observados. Em suma, a AFLT3 pode ser um bom complemento para uma carteira diversificada, especialmente para quem busca renda passiva e valoriza a estabilidade do setor elétrico, desde que o investidor esteja ciente e confortável com os desafios de liquidez e com a avaliação de valor.
Perguntas Frequentes (FAQ) sobre AFLT3
- O que é AFLT3?
 - AFLT3 é o código de negociação (ticker) das ações ordinárias da Afluente Transmissão de Energia Elétrica S.A. na B3. A empresa atua no segmento de transmissão de energia elétrica no estado da Bahia, sendo controlada pela Neoenergia.
 - A AFLT3 paga dividendos?
 - Sim, a Afluente (AFLT3) é conhecida por sua política de dividendos. Seu Dividend Yield atual é de 5,88%, com uma média de 6,08% nos últimos 5 anos, tornando-a interessante para investidores que buscam renda passiva.
 - Qual a principal atividade da Afluente Transmissão?
 - A principal atividade da Afluente Transmissão é a operação de linhas e subestações de transmissão de energia elétrica. Ela garante o transporte eficiente de energia, principalmente no estado da Bahia, com receitas reguladas pela ANEEL.
 - A AFLT3 é uma boa ação para Buy & Hold?
 - A AFLT3 atende a diversos critérios do checklist de Buy & Hold, como tempo de listagem, lucratividade consistente e dívida controlada. No entanto, pontos como ROE abaixo de 10%, crescimento de lucro abaixo de 10% e baixa liquidez diária podem ser considerados desfavoráveis por alguns investidores de longo prazo.
 - Qual o risco de investir em AFLT3?
 - Os principais riscos da AFLT3 incluem a baixíssima liquidez das ações no mercado, o free float reduzido (1,33%) que concentra o poder na controladora Neoenergia, e um histórico de payout elevado que pode gerar dúvidas sobre a sustentabilidade dos dividendos em cenários futuros. A avaliação de Graham também sugere que a ação pode estar sobrevalorizada.
 - Como a ANEEL impacta a AFLT3?
 - A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) regula o setor de transmissão de energia, estabelecendo as tarifas (RAP) e as regras operacionais. Isso proporciona estabilidade de receita para a AFLT3, mas também impõe conformidade com as regulamentações, que podem ser alteradas, como as recentes discussões sobre descontos tarifários.
 - Qual a relação da AFLT3 com a Neoenergia?
 - A Afluente Transmissão (AFLT3) é uma subsidiária da Neoenergia, uma das maiores holdings do setor elétrico brasileiro, que detém a maior parte de suas ações. Essa relação oferece à AFLT3 suporte financeiro e expertise técnica, integrando-a a uma estratégia de grupo para o segmento de transmissão.