O Circuit Breaker no Mercado Financeiro é um termo que frequentemente surge em momentos de grande agitação nas Bolsas de Valores, gerando dúvidas e preocupações entre os investidores. Essencialmente, trata-se de um mecanismo de segurança projetado para interromper temporariamente as negociações em períodos de quedas abruptas e atípicas nos preços dos ativos. Seu objetivo primordial é proteger o mercado contra o pânico generalizado e proporcionar um “respiro” para que os participantes reavaliem suas decisões com maior racionalidade.
Neste artigo você verá:
O Que é um Circuit Breaker?
O Circuit Breaker, ou “disjuntor de circuito” em tradução literal, atua como uma ferramenta crucial para a estabilidade do mercado acionário. Ele foi concebido para interromper automaticamente as negociações quando um índice de referência, como o Ibovespa no Brasil, registra uma queda percentual significativa em um curto espaço de tempo.
A principal razão de sua existência é evitar o que se conhece como “efeito manada” ou “efeito dominó”, onde a venda maciça de ativos por pânico de um grupo de investidores pode desencadear uma espiral de quedas ainda mais severas. Ao pausar as operações, o Circuit Breaker concede um tempo valioso para que o mercado se acalme, que as informações sejam digeridas e que decisões mais ponderadas sejam tomadas.
O conceito do Circuit Breaker surgiu após a crise de 1987, conhecida como “Black Monday”, nos Estados Unidos. Naquela ocasião, o índice Dow Jones teve uma queda histórica de 22,6% em um único dia. Diante da magnitude do evento, autoridades financeiras desenvolveram esse mecanismo para prevenir colapsos futuros.
Como Funciona o Mecanismo na B3: Regras e Estágios

Na B3, a Bolsa de Valores brasileira, o funcionamento do Circuit Breaker é regido por regras claras, baseadas em percentuais de queda do Ibovespa em relação ao fechamento do dia anterior. Existem três estágios de acionamento, cada um com um tempo de interrupção específico.
Estágio 1: Queda de 10%
Quando o Ibovespa registra uma desvalorização de 10% em relação ao valor de fechamento do pregão anterior, o primeiro estágio do Circuit Breaker é acionado. Todas as negociações da Bolsa são suspensas por 30 minutos. Após esse período, o mercado é reaberto na expectativa de que a volatilidade tenha diminuído e as operações voltem ao normal.
Estágio 2: Queda de 15%
Se, após a reabertura do mercado, o Ibovespa continuar em trajetória de queda e acumular uma desvalorização de 15% em relação ao fechamento do dia anterior, um segundo Circuit Breaker é ativado. Desta vez, as negociações são interrompidas por 1 hora. O propósito é dar um tempo ainda maior para a reavaliação do cenário.
Estágio 3: Queda de 20%
Na hipótese de o mercado reabrir novamente e o Ibovespa atingir uma queda de 20% em relação ao fechamento do dia anterior, um terceiro estágio do Circuit Breaker é acionado. Neste cenário, as negociações são suspensas por um período a ser definido pela B3, que comunica sua decisão ao mercado. Normalmente, a reabertura ocorre apenas no dia seguinte.
É importante ressaltar que as regras do Circuit Breaker não se aplicam nos últimos 30 minutos de funcionamento do pregão. Além disso, se um Circuit Breaker for acionado na última hora do pregão, na reabertura do dia seguinte, pode haver uma nova paralisação de 30 minutos, se necessário.
Histórico de Acionamentos no Brasil: Lições do Passado
O Circuit Breaker não é um evento comum, sendo acionado apenas em momentos de grande estresse e volatilidade. A história recente do mercado financeiro brasileiro é marcada por alguns acionamentos notáveis, geralmente associados a crises globais ou eventos políticos domésticos impactantes.
Momentos Marcantes
- 1997 – Crise Asiática: O Circuit Breaker foi acionado três vezes devido aos reflexos de uma grande crise financeira na Ásia.
- 1999 – Desvalorização do Real: A mudança no regime cambial e a desvalorização do real levaram a dois acionamentos em janeiro.
- 2008 – Crise do Subprime: A crise financeira global, originada nos EUA, provocou seis acionamentos na B3 entre setembro e outubro.
- 2017 – Joesley Day: A divulgação de áudios envolvendo figuras políticas resultou em um acionamento, conhecido como “Joesley Day”.
- 2020 – Pandemia de COVID-19 e Crise do Petróleo: O ano de 2020 foi particularmente turbulento, com o Circuit Breaker sendo acionado seis vezes em março, impulsionado pela pandemia e pela queda do preço do petróleo.
Esses exemplos históricos demonstram a importância do mecanismo em momentos críticos, servindo como uma válvula de escape para conter o pânico e permitir uma reavaliação do mercado.
Impactos e Importância para o Investidor
Para o investidor, o Circuit Breaker tem impactos distintos, dependendo da sua estratégia e do seu perfil. Embora possa gerar incerteza, seu objetivo principal é proteger a integridade do mercado e, consequentemente, o próprio investidor.
Investidores de longo prazo, que focam em fundamentos de empresas sólidas, tendem a sentir menos o impacto emocional e financeiro de um Circuit Breaker. Para eles, as pausas são uma oportunidade de reavaliar suas posições e, talvez, até mesmo encontrar oportunidades de compra em um cenário de baixa.
Já para day traders ou aqueles que operam com alta volatilidade do mercado e no curtíssimo prazo, o acionamento do Circuit Breaker pode interromper completamente as operações e gerar desafios, pois o tempo é um fator crucial. Nesses casos, a interrupção cancela ordens automáticas de compra e venda, forçando uma pausa estratégica.
Em última análise, o Circuit Breaker reforça a necessidade de ter uma estratégia de investimento bem definida e uma carteira diversificada. Ele atua como um lembrete de que o mercado financeiro pode ser imprevisível e que a capacidade de manter a calma e a racionalidade é fundamental em momentos de crise.
Circuit Breaker vs. Limite de Oscilação: Qual a Diferença?
É importante não confundir o Circuit Breaker com os limites de oscilação, que são mecanismos diferentes aplicados a tipos específicos de ativos no mercado financeiro, como os contratos futuros. Embora ambos visem controlar a volatilidade, suas metodologias e impactos são distintos.
O Circuit Breaker, como vimos, interrompe as negociações de todas as ações no mercado à vista por um período determinado quando o Ibovespa atinge certos limites de queda.
Já os limites de oscilação são aplicados principalmente no mercado de derivativos, como futuros de índice (WIN) e dólar (WDO). Nesses casos, não há uma paralisação completa das negociações. Em vez disso, a B3 define uma banda de preço máxima e mínima para o contrato em um dia. Se o preço atingir um desses limites, as negociações podem continuar, mas apenas dentro dessa banda. Isso pode levar a situações em que só há ofertas de venda (no limite de baixa) ou de compra (no limite de alta), dando a impressão de que o mercado está “parado”, mas as negociações não são suspensas como no Circuit Breaker.
Ambos os mecanismos são essenciais para a saúde do mercado, mas atuam de formas complementares para proteger os investidores e a própria bolsa contra movimentos extremos de preço.
Perguntas Frequentes (FAQ)
O que significa Circuit Breaker no Mercado Financeiro?
Circuit Breaker é um mecanismo de segurança da Bolsa de Valores que interrompe temporariamente as negociações de ativos em momentos de quedas abruptas e significativas, com o objetivo de conter o pânico e permitir que o mercado se reorganize.
Quando o Circuit Breaker é acionado na B3?
Na B3, o Circuit Breaker é acionado em três estágios, dependendo da queda do Ibovespa em relação ao fechamento do dia anterior: 10% (interrupção de 30 minutos), 15% (interrupção de 1 hora) e 20% (interrupção por tempo a ser definido pela B3).
Qual o principal objetivo do Circuit Breaker?
O principal objetivo é proteger a integridade do mercado, evitar um “efeito dominó” de vendas por pânico e dar aos investidores tempo para reavaliar suas posições e tomar decisões mais racionais, garantindo a estabilidade e a confiança.
O que acontece com minhas ordens de compra e venda durante um Circuit Breaker?
Durante o período de interrupção, todas as negociações são paralisadas, e as ordens de compra ou venda inseridas são adiadas até a reabertura do mercado. Não é possível cancelar ordens que estejam participando da formação de preço no leilão de reabertura.
O Circuit Breaker é bom ou ruim para o investidor?
Embora possa gerar incerteza e interromper operações de curto prazo, o Circuit Breaker é considerado um mecanismo positivo, pois protege o investidor de perdas ainda maiores em cenários de pânico e permite uma análise mais cautelosa. Para investidores de longo prazo, pode até representar uma oportunidade.
O Circuit Breaker existe em todas as Bolsas de Valores do mundo?
Muitas Bolsas de Valores ao redor do mundo adotam mecanismos similares ao Circuit Breaker para gerenciar a volatilidade extrema, embora as regras e os limites percentuais possam variar entre cada mercado.
Qual foi o último Circuit Breaker no Brasil?
O último período de múltiplos acionamentos do Circuit Breaker no Brasil ocorreu em março de 2020, durante a crise global desencadeada pela pandemia de COVID-19 e a guerra de preços do petróleo, com seis interrupções na B3.